A vida e a morte...

Todos os dias eu tenho de lidar com pessoas e adoro fazê-lo! Além disso é o meu trabalho!

Mas se lidamos com pessoas também temos de lidar com a perda delas! Quando trabalhei nalguns lares, ao fim de um par de meses eu andava transtornada, adorava o meu trabalho, mas transtornava-me lidar com a morte, transtornava-me entrar num quarto sentir o frio da pele e ver o olhar opaco, saber que aquela pessoa sorria quando nos via, que todos os dias íamos ao quarto dela dar o bom dia e no dia seguinte estava morta isso era penoso para mim. Era horrível ter de lidar com aquelas perdas, e se antes eu dava preferência a trabalhar com estas faixas etárias, por momentos eu ponderei deixar a minha profissão. Mas... isso estava fora de questão eu sabia que adorava a minha profissão, já estava dependente daquelas pessoas. A solução surgiu, eu não podia desgastar-me tanto num trabalho que eu adorava fazer, tive de encarar a morte como uma presença assídua, tive de aceita-la apesar das injustiças que cometia.

E decidi ter outra vida paralela ao meu trabalho, comecei a frequentar espaços jovens a conhecer pessoas novas e jovens, tornei-me uma pessoa mais activa, isso dava-me defesas para lidar com aquelas perdas regulares. É claro que continuava a sofrer com as perdas, eu trabalhava diariamente para o bem-estar daquelas pessoas e no dia seguinte recebia noticia que a SENHORA tinha ceifado mais uma vida, sem rodeios tirava a vida as pessoas independentemente do estatuto da riqueza ou do género. Era a lei da vida e da morte e com isso eu não poderia lutar, a única solução era entende-la.

O tempo passou deixei aquele trabalho, mudei de cidade e essa lição foi ficando esquecida, nessa altura já não lidava diariamente com as perdas, e o destino pôs-me a frente a energia contagiante das crianças, nessa nova fase sentia muita saudade dos seniores e de todo aquilo que tinha aprendido, mas aliviava-me saber que não tinha de lidar com a perda de pessoas que me eram queridas, pela lei natural da vida as crianças não morriam primeiro que os adultos e nunca tive de passar por essa dor...

Ao regressar para a capital, pude decidir com que grupo etário queria trabalhar e a minha procura foi centrada nas saudades que sentia.

Como adoro trabalhar com eles, ensinam-nos tanto…

Mas a lição, que tinha posto no meu subconsciente, não foi ligada, afinal de contas lidava com pessoas que dentro da sua idade ainda eram pessoas activas... Mas a SENHORA não tem pudores e leva as pessoas independentemente de serem ou não activas...

É uma traidora, corrói o interior e por mais que olhemos para uma pessoa e vejamos ainda aquele brilho no olhar custa-nos ver que ela, a SENHORA, está por perto. Na semana passada a SENHORA voltou, revi uma pessoa e descobri que a SENHORA andava a ronda-la. A pessoa sofre de cancro e só a família sabe. Mas... Até que ponto é justo sabermos que ela ceifará aquela pessoa e não dizermos nada!? Tentando ver pela minha perspectiva eu preferia não dizer nada, mas será justo?

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