Há muito que queria escrever sobre isto...
O que me fez hesitar foram duas questões:
— Não ser um assunto só meu, mas de casal, apesar de comummente eu ser
mais abordada sobre isso.
E
— Criar um sentimento de pena/ compaixão e constrangimento que não é de
todo a minha postura!
O assunto é INFERTILIDADE, segundo a OMS eu e o meu marido somos
inférteis.
Há 3 anos que tentamos ser pais e não conseguimos! Fizemos todos os exames
médicos possíveis, no hospital mais indicado para isso, somos
comprovadamente saudáveis, e também temos tentado de outras formas mais
invasivas (injetáveis (que me provocaram muito mal-estar físico e
psicológico), induções, inseminação, etc., etc.) e nunca ocorreu NADA, uma
gravidez e aborto espontâneo!
Com isto tudo acreditem, há 3 anos que nos perguntamos, com alguma
incredulidade, emoção vs. racionalidade o porquê de não acontecer nada, já
tivemos imensas conversas sobre o assunto e no fim chegamos a mesma
conclusão... Sendo nós os protagonistas desta história também somos os
primeiros a desconstruir ou desmontar qualquer culpa, piedade ou
sofrimento que possa surgir, o mantra que construímos juntos é que "nem
todos temos de ser pais/ progenitores, nem todos somos destinados a isso e
está tudo bem!"
Óbvio que quando vejo a notícia de uma boa nova em alguma mulher aos
39/40/41/42 anos e por aí fora, penso sempre que essa exceção pode também
ser a minha, é normal em tudo na vida...
Mas que fazer se a natureza nos dita que não conseguimos ser país
biológicos!? Como já disse temos dias que questionamos a vida, a nossa
função ou missão na vida, os objetivos e propósitos da mesma, porque a
sociedade é um pouco dura com quem não é mãe e/ou pai. Desde a minha idade
adulta (20/21 anos) que me foi questionada (muitas vezes de forma jocosa
ou inadequada) quando seria mãe, ou que já tinha idade para ter filhos ou
para pensar em filhos, aliás arrisco dizer que grande parte das mulheres
já ouviu estes questionamentos de outros... nunca respondi mal, nem me
senti ofendida em 90% das vezes (numa ou outra ocasião mereciam uma
resposta mais torta), mas a verdade é que cada vez mais essa pergunta tem
deixado de acontecer se calhar por maior sensibilidade, porque sempre
falei (a quem merece) abertamente do meu/ o nosso percurso ou simplesmente
porque nalgumas situações as pessoas encaixaram a ideia que não tem nada a
ver com isso ou que efetivamente ser mulher não passa obrigatoriamente por
ser mãe! Eu não deixo de ser mulher ou menos mulher por não ser mãe, o
mesmo se aplica ao homem como é óbvio não deixa ser menos homem só porque
não tem filhos (mas esse preconceito não é tão sonante nos homens). Sim,
somos "órfãos da parentalidade", mas há sempre forma de contornar se
quisermos deixar de o ser, no futuro até podemos ver a nossa família
noutra perspetiva, mas ao dia de hoje estamos bem com tudo aquilo que
temos...
Sinto-me resolvida com a minha vida tal como o meu marido, temos muitos
projetos, sonhos e realizações para concretizar não só a solo como em
casal.
Este texto serve unicamente para me expressar e não tem o objetivo de ser
evangelizador, missivo, sugestivo ou conselheiro, apenas senti o dever de
mostrar um lado um pouco mais descontraído, não tão doloroso sobre um
assunto tabu. Infelizmente a infertilidade é cada vez mais comum, só temos
de estar bem com esse facto, mesmo que não sigamos as regras da
generalidade, nunca deve faltar o bom senso ao senso comum!
https://www.youtube.com/watch?v=vhnplk46xLI
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