Joker

Talvez vá tarde… mas andei adiar a visualização do filme Joker! Confesso que quando soube quem iria encarnar o papel e que era um filme sobre uma pessoa real não havendo qualquer fantasia inerente aos super-heróis fiquei muito entusiasmada, quando estreou vi tanta referencia a palavra perturbador que optei por adiar.

O filme Joker (interpretado por Joaquin Phoenix) conta a origem do vilão que luta contra Batman na cidade Gotham City (uma cidade ficcionada muito parecida com New York). É um filme sem fantasia, optando por um ambiente muito “anos 80 noir”, realista o suficiente para comparar com o contexto social e político do mundo actual, o que ainda torna a cena mais perturbadora...

Já aqui disse que sou muito sensível a imagem e que não gosto de ver qualquer tipo de violência, mas nem foi a questão da violência física que me deixou mais pé atrás, é o facto de o filme retratar a saúde mental e como podemos ser vítimas do sistema. No presente caso é isso mesmo que é retratado, uma pessoa com a sua saúde mental muito frágil, ou podemos dizer doente, no qual o sistema governativo não sabe dar apoio porque, SURPRESA, a saúde mental é sempre preterida e isso não é algo ficcional, em Portugal a saúde mental não é valorizada e em outros países como os EUA também não é valorizada.

No inicio é-nos mostrado um protagonista frágil, triste e deprimido, com uma auto-estima muito baixa e no qual leva muitos "pontapés" (literalmente e metaforicamente) e vive uma vida no limite da pobreza, por exemplo Arthur (nome de Joker no filme) de repente deixa de ter apoio social (e acesso a medicação) porque as verbas foram cortadas e quase em simultâneo fica desempregado (ironicamente Arthur trabalhava como palhaço). Em casa é cuidador da mãe que também é doente mental.

Ora sem querer justificar a maldade de um vilão podemos afirmar que temos aqui ingredientes explosivos e mais que validos para criar um monstro, a "sociedade" e todos os problemas sociais que existem criaram o VILÃO! (nota: trabalho na área social e lido com muitas pessoas com a saúde mental frágil ou sem qualquer saúde mental e por isso ao ver o filme remete-me logo para a realidade com a qual lido diariamente, percebem agora o porque de querer ver mas ao mesmo tempo ter medo de ver este filme!?)

Outra questão interessante é o facto de o filme também mostrar uma sociedade de extremos onde há um fosso social muito perceptível, a referência maior é quando Thomas Wayne (candidato a governador, muito rico e pai de Batman (que aqui no filme ainda é uma criança)) e a elite vêm um filme do Charlie Chaplin (que fala tanto das diferenças sociais), enquanto na rua decorrem protestos e manifestações dos descontentes e das minorias que sofrem num sistema que só beneficia os mais ricos.

Por fim, só de ressalvar que o filme também está cheio de simbolismos, o mais engraçado de todos, e não acredito que seja coincidência é por exemplo o local onde Arthur vai ver sessões de stand up comedy e mais tarde vai atuar, e chama-se Pogo’s, eu grande fã de policiais e com uma memória prodigiosa para informações inúteis remeti logo o nome do bar para um assassino em serie (dos EUA) que coincidentemete tambem era palhaço e tinha o nome de Pogo, e agora a melhor parte sabem o nome do senhor? (sim porque Pogo era o nome do personagem/palhaço que ele encarnava) John WAYNE, sim tem o mesmo sobrenome que o pai do Batman!!!

É um filme realmente bom e merecedor de todos os prémios que ganhou, ótimo também para psicólogos e psiquiatras de primeira viagem analisarem porque tem muito material!

Mas é daqueles filmes que só vou rever daqui a uns bons anos porque incomodou-me muito!

 

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